quinta-feira, 31 de maio de 2012

(Season 1) Cap. 03 - Simon


(AVISO: Desde o início da história eu disse que a cada capítulo eu incluiria alguns assuntos e cenas que não são próprios para menores de 18 anos. Não estão proibidos, mas estão avisados. A história é publicada sem intensões, somente por diversão, MAS é melhor me precaver. Espero que gostem!)
(WARNING: Since the beginning of story I said that each chapter I would incluse some subjects and scenes not suitable for under 18. Are not prohibited but are warned. The story is published with no intentions, just for fun, BUT it’s better to avoid me. Enjoy!.)




“Medíocre era o único adjetivo que se encaixava em uma descrição da minha situação no momento. Não julgue como um exagero porque não fui eu que declarei isso. O sobrinho que ainda não passou no vestibular, enfiado em um escritório empoeirado durante metade do dia, visto como aquele que tinha uma namorada bonitona que provavelmente o traía. Era assim que minhas tias costumavam se referir a mim naqueles jantares onde servem arroz condimentado e frango assado, aqueles de família, aqueles que são um inferno”.



“A pior parte é perceber que esta previsão sobre mim está correta agora. Trabalhar? Sério? Organizar todos aqueles malditos apartamentos em uma planilha? Sinceramente eu só conseguiria mover meus braços agora se fosse pra pegar uma garrafa de bebida... Ou um copo, pelo menos. Esse escritório está tão apertado que, se fosse claustrofóbico, estaria tendo espasmos agora.”



“Ok. Talvez um cigarro seja o suficiente.”

Levantou-se da cadeira, aproximou-se da janela e descansou o corpo a beira desta. Havia pouco movimento na rua e mesmo se fosse a mais movimentada do mundo, ninguém entraria na imobiliária de seu pai – onde trabalhava obrigatoriamente sob ameaças - estabelecimento de família, passado por gerações, ou seja, velho.



Ascendeu o cigarro que o ajudaria a encontrar animação pra continuar a preencher tudo aquilo.  Oh não, claro que não era permitido fumar ali, mas seu pai poderia ser facilmente confundido com um dono de tabacaria por exalar o cheiro de nicotina, eram maços e maços por dia. Jamais perceberia o cheiro acumulado ali, já os clientes... Bem, eles percebiam.



Perambulou pela sala até encontrar a ironia em forma de papel sobre a mesa. Lá estava ela, blasé como ninguém mais poderia ser no momento, o encarando dentro da roupa conceitual que destacavam as poucas curvas de seu corpo magro, mas ainda atraente.

- Só podem estar de brincadeira – Iniciou uma conversa com ele mesmo – É, Kitty Cat, parece que não vou me livrar dessa sua cara de falsa inocente tão facilmente, não é? – Agora conversava com a revista, ou melhor, com quem estava estampada na mesma.



A tomou em mãos, passou os olhos sobre os anúncios rapidamente – já que nada o interessava – e ao encarar Kitty sentiu a “cena mais humilhante de sua medíocre vida”  passar por sua mente novamente. Tentou evitar fechando os olhos, mas era tarde demais, lá estava ela agarrada no pescoço da "Barbie".

- Mesmo estando envolvida com essa porcaria de modelos, você era diferente da maioria, não era uma patricinha qualquer ou agia como uma adolescente... E é por isso que eu te amei por muito tempo. – Ao se declarar para a revista, percebeu o quão idiota aquilo poderia parecer, caso alguém estivesse ouvindo.



Xingou meia dúzia de palavrões e não resistiu em jogar a revista contra a parede. Ótimo seria poder jogar Kitty, mas como isso poderia acarretar milhares de problemas, jogar a revista seria o suficiente.



- Quer saber? Vai se ferrar, Kitty. Eu devia ter imaginado que você seria uma vadia um dia... – Mostrou então seu dedo, em um gesto obsceno e inútil, já que era apenas uma revista. Faltava um pouco de coragem pra fazer isso frente à verdadeira Kitty.



- Oh, a revista deve estar muito ofendida agora, Simon.

A espinha dorsal de Simon gelou ao ouvir a voz da garota encostada ao vão da porta. Somente por prevenir o quão constrangido ficaria agora, imaginava a quanto tempo ela estava ali, observando a cena ridícula executada com tanta dramatização.



- Ok... O que diabos você está fazendo?
- Jogando uma revista na parede.
- Ótimo. Bom saber que você está digitando as planilhas com tanta efetividade a ponto de ter tempo pra isso!
- A quanto tempo está aí, Lisa?
- O suficiente pra achar que você é retardado.
Simon suspirou em silêncio, nenhuma explicação seria plausível.
- O que está acontecendo aqui afinal, baby? – Lisa prosseguiu.
- Absolutamente nada, mas algo pode estar acontecendo na recepção, então sugiro que volte pra lá.
- Ei, ei, não vem descontar em mim!



- Ok, mas isso só vai ser possível se você voltar pro seu posto e me deixar sozinho aqui.
- Não! – Lisa dramatizou uma cena de susto – Espera! Você está de coração partido, não está? Ooown! Não fique assim, primo!

Simon se contentou a revirar os olhos e contorcer os lábios, sabia que a conversa seria longa. Lisa, sua prima, fazia questão de tirar sarro de situações semelhantes, somente por implicância. Eram próximos de forma “obrigatória” já que trabalhavam no mesmo recinto e ,sempre encontrava uma oportunidade, Simon a chamava de “encalhada” ou qualquer outro adjetivo semelhante.



- Deixe-me tentar compreender o que essa pobre e inofensiva revista tem a ver com seu coração partido. – Agachou-se para pegar a revista enquanto Simon se acomodava na escrivaninha para terminar seu cigarro.



- Ahh! Havia me esquecido que sua namorada era modelo!
- Ex-namorada. – Corrigiu.
- Ex!? O que houve?
- Não estou afim, Lisa.
- Oh meu Deus! Você está mesmo chateado, não é?
- Não Lisa, estou muito feliz por isso, mesmo. – Ironizou.



- Ah Simon! Poucos homens admitem um coração partido com tanta clareza e sinceridade, você é um tipo raro! Não fique triste, um dia vai encontrar uma mulher que seja tão romântica quanto! – Lisa, na verdade, ainda estava tirando sarro e se vingando de Simon, por tudo que este já disse enquanto a mesma estava triste por um fim de relacionamentos - não era uma garota de sorte nesse quesito – mas no fundo, estava o elogiando. Simon poderia posar de forte, mas o que sentia pro Kitty não era uma paixão adolescente e estava realmente estraçalhado por dentro.

- Cai fora, Lisa...



- Não! Vou te abraçar até você abrir esse sorriso amarelo novamente!
- O que!? Porra Lisa! Entendo que você esteja em desespero, mas eu sou seu primo...!
- Para de ser bobo, só estou tentando te animar.



- Não existem razões pra tentar me animar, garota! Eu não estou triste.
- Ainda resistindo!? Que graciiiiinha! Continua, estou me divertindo com isso.
- Sua... Maldita.
- Ei! Não me chame de coisas feias, seja um bom menino ou não vou te animar mais.

Simon arfou de raiva, realmente precisava ficar sozinho; sentiu vontade de jogar Lisa pela janela da saleta, mas acabou cedendo ao “abraço de conforto” para que fosse possível resistir a violência desnecessária.







Enquanto tais mediocridades aconteciam do outro lado da cidade, Kitty posava para mais revistas, sua agenda estava ficando cada vez mais recheada de boas oportunidades nesse ramo e isso estava se tornando uma profissão. Jamais imaginou que passaria de um simples hobbie.







 - Parece uma verdadeira marinheira! Posso até sentir a brisa marítima. - Exagerava o fotógrafo Bruno durante os cliques.

O sorriso de Kitty estava estampado em seu rosto, literalmente. Não queria estar ali, sua cama era o único lugar onde queria permanecer até que tudo se acalmasse e voltasse ao normal. Chega um momento em que o melhor que alguém pode fazer é se esconder, mas era necessário continuar a rotina ou perderia o que já conquistou. 





Tentava olhar o lado positivo da situação, que era estar sozinha com Bruno – era profissional o suficiente para receber a confiança dos produtores quando não era possível estarem presentes -. Eram amigos a um bom tempo, desde que mataram o tédio juntos em uma festa de inauguração de revista, falando mal das roupas dos outros convidados. O lugar estava calmo sem a gritaria dos alheios.




- Você esteve ótima, Kitty, aprimorando suas técnicas cada vez mais, meus parabéns! – Elogiou Bruno mais uma vez após a última foto. Possuía um jeito característico de conversar, parecia ser sempre formal e educado, era impossível imaginá-lo em uma discussão, por exemplo.



- Obrigada, querido. Você é sempre gentil assim ou te obrigam? – Brincou Kitty.

Bruno riu por alguns segundos antes de, acidentalmente, franzir uma expressão preocupada. Parecia querer dizer algo, mas estava se impedindo.

- Ei, o que houve? Algo errado com a câmera?
- Não, está tudo certo... É que eu queria te perguntar algo.
- Desembucha Bruno, o que foi?
- Kitty, você anda saindo com o Rupert? Aquele garoto loiro, alto, que trabalha- Fora cortado por ela que afirmou conhecê-lo balançando a cabeça positivamente, ansiosa pela continuidade.  – Vocês estão saindo?
- Olha... Em um resumo eu posso dizer que sim, mas porque a pergunta?
- Não é nada! É que... Eu me preocupo um pouco com você, Kitts.





Kitty não sabia o que dizer, pensou em vários tipos de pergunta, mas conhecendo Bruno, sabia que ele se esquivaria de alguma forma. Era acidentalmente misterioso e reservado.

- Aliás, não te contei! Ele está te esperando do lado de fora do estúdio! – Esquivou-se antes mesmo da pergunta.




- Ok... – Kitty o envolveu em um abraço que estava precisando, queria sentar ali e contar o que estava acontecendo, desabafar, mas não era o momento certo. – Então nos vemos na próxima.
- Sim. Poxa, ia te chamar pra tomar um refresco comigo... Fica pra próxima, né?
- Na próxima nós iremos e... Você não vai me dizer o que está errado, não é?



- Não. Eu tenho medo de estragar tudo, Kitts.
- Tudo bem, querido. Eu descubro.
- Só tome cuidado, ok? De verdade.
- Pode deixar. Eu gosto muito de você, Bruno.
- Também te adoro, Kitts.



Após se despedir e retirar as vestes marítimas À La Chanel saiu do estúdio para poder acreditar que Rupert estava mesmo a sua espera, suas esperanças de Bruno ter se enganado acabaram assim que colocou os olhos na figura sentada ao banco de madeira. Despejado ali, só podia estar a espera de alguém.

- Olá marinheira. – Soou a voz rouca que ela, na verdade, mal conhecia..




- Rupert... – Kitty falhou em ser direta no pedido de desculpas pelo o que havia acontecido na festa quando o encarou, sentiu vergonha a ponto de preferir voltar se enfiar naquela roupa de marinheiro novamente – Olha, me desculpa por te envolver nisso, ok?



Esperava palavras, mas não as obteve. Rupert a encostou na parede do estúdio com, no mínimo, certa violência.

- Tudo bem, desde que você não tenha feita aquilo só pra colocar ciúmes naquele macaco. É seu ex-namorado, certo? O garoto das fotos me contou.
- O Bruno?
- Deve ser, mas não o culpe, ele sofreu certa pressão psicológica.
- Que horror, Rupert...



- Eu só queria entender porque alguém quase quebrou minha mandíbula. Acho que tinha o direito, não?
- Poderia ter me perguntado...
- Ah, sério? Você, Marilyn Monroe, tem a agenda cheia demais pra responder as perguntas de um cara qualquer, além de ter saído correndo daquela forma... Você está bem? Quer contar o que houve?
- Não, não quero.



- Então tá. – Rupert encerrou a conversa e deu a Kitty o que achou que precisava para melhorar a expressão de constrangimento que até alguém que estava caminhando pela calçada perceberia (não que ele a conhecesse mais do que este alguém). Ela correspondeu, depois do primeiro estalo de um beijo inicial, ofegou ao sentir uma das mãos de Rupert correr por suas costas.




Não conversaram muito mais a partir dali. Rupert só sinalizou uma possível saída antes que alguém do estúdio os visse. Comentaram por alto possíveis bares abertos ou até mesmo pubs, mas não chegaram a uma conclusão, só caminharam enquanto suas mãos se ataram automaticamente. Kitty havia acendido um cigarro, uma tentativa de se acalmar fingir que estava tudo bem, como dizia a si mesma mentalmente.



No mesmo bar, assentos e hora de sempre, estavam o resto do quarteto também fingindo que tudo estava bem. Naquele fim de tarde, Simon nem foi capaz de arrancar a roupa formal que usava obrigatoriamente todos os dias, precisava mesmo beber algum destilado forte.

- E então a vadia disse “Não é este tipo de apartamento que estou procurando, meu jovem” – Reclamava Simon entre um gole e outro, citou a fala da cliente em uma tentativa de satirizar a voz da mesma – depois de eu mostrar o décimo quinto apartamento, décimo quinto! – frisou.
- Décimo quinto apartamento? Espera aí, mas essa senhora não estava procurando um bom lugar pra viver com seus vinte e três gatos? – Indagou Chaaz, incrivelmente interessado no papo bêbado de Simon.



Não parecia, mas Ingrid estava ali. Revirava os olhos percebendo que não seria uma noite divertida. Suspirou uma vez, e depois outra. Sempre que tentava não pensar no que houve com Simon, acontecia completamente o contrário, lembrava-se dos detalhes, o que a fazia tragar o cigarro com mais ansiedade e erguer uma das sobrancelhas sem perceber.



Chaaz - como sempre - se encontrava em uma situação dividida. Percebeu facilmente que ambos estavam aflitos e avulsos. Simon não conseguia parar de comentar aleatoriedades do trabalho que o estressava e Ingrid estava calada, porém bebendo e fumando como se fossem as últimas coisas que precisasse fazer em vida. Estava começando a se chatear por se o último a saber de tudo, mas jamais seria capaz de contar isso a algum deles.



- Vou jogar. – Citou Simon durante o salto que deu do banco, sentindo que Chaaz estava começando a ficar curioso demais, e este só pode suspirar. Tudo sempre terminava em sinuca.



Curiosamente Ingrid tomou a primeira posição e acertou a bola branca com força suficiente pra encaçapar três ou quatro bolas. Seria muito agradável se ela pudesse colocar a cabeça dos três (principalmente Kitty) ali e fazer o mesmo.




Logo foi a vez de Simon que fingia estar muito interessado no jogo para tenta evitar outro tipo de conversa que envolvesse últimos acontecimentos. Pior do que encarar Ingrid ali seria comentar, citar, pronunciar o nome de Kitty.
Chaaz manteu os olhos em Ingrid na expectativa de poder perguntar o que houve. Percebendo isso, a garota passou a observar um foco qualquer no ambiente, o evitando.



- Ingrid?
- Huum? – Apenas murmurou, denunciando sua aflição.
- Que merda está acontecendo aqui e eu não estou sabendo?
- Não sei se percebeu, mas estamos jogando sinuca. Você tomou ou fumou alguma coisa, Chaaz? Se sim, divida. – Esquivou-se sabiamente, usando sua esperteza e ironia natural.



- YEEEY! - A conversa foi interrompida pelo urro de Simon que fez uma jogada incrível, mais um motivo pra Ingrid ficar aflita. Odiava perder uma partida de sinuca, ainda mais na situação em que encontrava.



Kitty perdia a partida de sinuca que, até hoje, nunca esteve ausente. Percebeu que poderia não ser uma troca justa ao obervar o ambiente em que encontrava. Um prédio extremamente fuzilado, localizado abaixo da ponte da cidade.

- Sério Rupert?
- “Sério” o que, loira?
- Que diabos de lugar é esse? – Além da destruição natural do local, gritos de uma possível discussão podiam ser escutados em bom tom, junto ao baque de panelas que provavelmente estariam sendo lançadas contra as paredes de um dos apartamentos. – Isso é uma... Briga?



- Ahh, eles sempre brigam. Quase se matam, mas no fundo se amam.
- Rupert, a primeira pergunta era mais importante.
- Ah sim, claro. Este “diabos de lugar” é onde eu vivo.
- Onde você vive!? Espera, não sei se fico mais brava por estar mentindo ou por perceber que não estamos no bar do seu amigo que citou no carro!




Rupert continuou a guiando pela cintura, até abrir a penúltima porta do andar. Todo ser humano deveria saber que pensar na expressão “pior que está não pode ficar”, é efetiva em falhar. O ambiente interior era capaz de ser pior do que o exterior, Kitty franziu o nariz arrebitado imediatamente sem nem perceber.



- Ok. Você me trouxe pra sua casa que, por sinal, é o lugar mais treta da cidade. Acho melhor eu dar o fora antes que um tiro me acerte da janela. – Kitty estava brincando sobre o tiro, mas ser levada para a casa de Rupert sem avisos prévios a irritavam mais do que os ruídos de ratos na cozinha.
- Ei, é realmente onde moro. Se eu soubesse que era esnobe assim tinha alugado um flat no litoral da cidade, só pra te receber, princesa.
- Não me venha com essa cara de coitado porque o que está me irritando mais não é a sua casa e sim o fato de eu não estar entendendo porque estamos aqui! Não estávamos indo beber alguma coisa, Rupert?



- Apressei as coisas, né? Desculpa. Não foi intencional, eu juro que não. Eu só não conheço mesmo nenhum lugar legal e te trouxe pra cá pensando nas bebidas que tenho na geladeira. Você não perguntou, mas eu acabei de chegar na cidade.

Kitty suspirou e o encarou com desistência. Realmente não sabia se quer o sobrenome dele. Perguntava-se quando foi que sua vida se tornou tão confusa e fora da rotina.

-Tá legal, Rupert... Esquece. Tudo bem. – Não havia mais nada a dizer, só a aceitar. Observando o lugar ouviu as palavras de Bruno martelarem em sua cabeça, mas se esquivou das mesmas em uma luta mental pra tentar se manter ali ao invés de correr.





- Você ficou chateada, não é?
- Não, está tudo bem. Você pode me beijar agora se quiser... Pra ajudar a finalizar essa conversa confusa, sabe?

Riram sem humor, estavam constrangidos, mas as palavras de Kitty instigaram Rupert, estava a julgando como uma mulher interessante a essa altura.




Envolveram-se no mesmo beijo de antes, parecia ser uma continuação. Rupert deslizava as mãos em seu busto com cuidado, o que impulsionou Kitty a soltar-se um pouco mais. Ficaram assim por vários minutos, conhecendo-se de uma forma diferente.




Anteriormente sentia as mãos dele soltas e precavidas, sentia-se no comando da situação. Agora as coisas estavam ficando, no mínimo, estranhas. Imaginou ter exagerado no impulso e atiçado os instintos de Rupert.


A partida de sinuca havia se finalizado com Ingrid reclamando de “roubo” por ter perdido e acabaram se dissipando até que cada um tomasse rumo de suas casas.  Simon caminhava em direção a sua, antes que recebesse uma ligação de sua mãe reclamando um possível atraso no expediente do dia seguinte.




Caso imaginasse onde Kitty estava teria uma taquicardia ali mesmo, no meio da rua. Era nela que pensava enquanto caminhava, não poderia perguntar a Ingrid se soube de seu paradeiro desde a última vez que a viram e, por isso, estava preocupado.
Não seria possível dizer que esta estava em uma situação ruim agora.



Mas Simon estava. Utilizando o “atalho” de sempre pra chegar mais rápido em sua rua, deparou-se com um conhecido e três estranhos que pareciam estar a sua espera.


Agora era Kitty que teria motivos para se preocupar caso soubesse onde Simon estava, mas estava envolvida demais para se preocupar. No momento, tentava entender como era possível lábios se encaixarem tão bem como os dela e de Rupert.


- Um negão, um hipster e um asiático? Mandou bem no exército, Aron, mas não precisava disso tudo só pra mim, cara. – Alfinetou Simon assim que sentiu as mãos do irmão de Ingrid franzindo a gola de sua camisa. Sabia que apanharia muito ali e o máximo que poderia fazer era se divertir a suas próprias custas.


A descrição ia muito além de “um negão, um hipster e um asiático”, junto a Aron estavam caras conhecidas pelos jornais da cidade, dois por tráfico e um por suspeita de homicídio, e foi justamente este um que sorriu com malícia assim que pousou os olhos em Simon.


As situações podiam ser julgadas como tensa dos dois lados. Simon poderia apanhar ali até urinar nas próprias calças e Kitty já estava deitada na única coisa não empoeirada do quarto: a cama. Havia um abismo entre os níveis de tensões, mas não deixavam de estar.

- Então, que tal a gente ir pro Pub agora? Você não conhece, mas eu conheço. – Kitty perguntou, mesmo achando audacioso fazer isso a essa altura. Estava risonha, mas o riso era parte do nervosismo e constrangimento que sentia. 


Rupert não respondeu a pergunta de imediato, o que a fez engolir seco. A beijou algumas vezes mais enquanto a colocava sentada na cama e corria as mãos por suas roupas a procura de zípers, fivelas e afins.

- Porque evitar algo que você quer? – Foram as palavras que saíram quase inaudíveis da boca de Rupert quando se aproximou do ouvido de Kitty que preferia que este tivesse se mantido em silêncio.


Simon acreditou que haveria algum tipo de “conversinha” antes de começarem a chuva de socos e chutes que estava por vir, mas Aron estava realmente irritado com tudo aquilo, sentiu-se ridicularizado por apanhar dentro de sua própria casa do sujeito que subiu com sua irmã mais nova pro quarto logo depois. Depositou com vontade seu punho no rosto desavisado de Simon.

 - Ahhn, Rupert... Eu estou falando sério. – Kitty ainda tentava se esquivar das mãos de Rupert que mantia o foco e ritmo sem hesitar.  – Você está me ouvindo?
- Estou, mas não vejo motivos pra parar aqui só por existirem algumas “regras de primeiro encontro” que garotas gostam de seguir, sendo que você também quer isso, tanto quando eu.
- Quem disse?
- Você, a alguns minutos atrás.

Soava estranho, mas era verdade. Por mais que tenha sido uma ação involuntária, Kitty deveria ter o parado enquanto pode. E Rupert também estava certo ao afirmar que ela queria estar ali com ele agora, só acreditava que ela resistia pelo motivo errado. Não eram “regras de primeiro encontro” que a impediam – primeiramente – e sim Simon, não estava pronta para um desapego tão rápido. 


Mal sabia Kitty que Simon estava sendo escorraçado no mesmo momento. Até poderia ser algo normal e talvez até hilário, caso ele não estivesse embaixo de um homem com três ou quatro vezes a sua força – e uma suspeita de homicídio - agora, recebendo golpes diretamente no rosto. Pobre Simon.


Foi largado na calçada por alguns segundos, enquanto pode respirar e tossir para evitar um engasgamento com o sangue do interior de suas bochechas acumulado em sua garganta.

- Ai... Filhos de uma cachorra. – Assim que teve oportunidade, xingou. Sentia muita dor no momento e isso era tudo que poderia fazer para aliviá-la, por mais que sua voz tenha saído baixa e rouca demais.



Mesmo estando completamente despida agora, Kitty ainda tentava resistir a Rupert, agora de uma forma um pouco mais corporal, já que palavras não estavam adiantando.

- Rupert... Não estou pronta, é sério, você não sabe o que estou passando. – Tentou pela última vez.
Ele apenas sinalizou silêncio com o dedo indicador sobre a boca e foi aí que Kitty percebeu que ele não estava a ouvindo mais.


- Isso é pra você entender que não sou um moleque. Toma, filho da mãe! Quero ver você mancar até em casa. – Aron percebeu o quanto Simon já estava surrado, mas não se deu por satisfeito.



Acertou um chute bem encaixado no corpo de Simon ao chão, que o jogou a alguns bons centímetros mais de distância.
Simon cerrou os dentes para evitar um grito e/ou gemido de dor, estava feliz por ouvir as palavras “andar até em casa”, significava que não pretendiam finalizar aquilo ali; não desperdiçariam mais ficha com a polícia com um caso simples, deduziram que uma surra era o suficiente (se o conhecessem melhor, o matariam).


A este ponto, Kitty havia desistido mesmo de tentar evitar a aquilo tudo, mas não por completo, continuava a soltar algumas palavras de resistência, mas ofegantes demais para serem entendidas. Rupert ainda sinalizava para que ela se calasse, como quem tentava a acalmar para que aproveitasse o momento.


Se Kitty realmente quisesse sair dali, ela poderia. Rupert não estava usando nem meio terço de sua força, não estava sendo violento. A verdade é que ela realmente queria estar com ele de alguma maneira, mas não agora.
Quando finalmente parou de se debater contra o corpo de Rupert, começou a reparar o mesmo. Tatuagens o adornavam, a maioria delas cobria grande parte do local onde estavam; não pareciam tatuagens alheias de alguém que se tatua somente por gostar de body modification, cada uma delas parecia ter um significado e ligação.


Ironicamente as situações de Kitty e Simon se acalmaram ao mesmo tempo. Aron retirou a expressão franzida do rosto e a substituiu por um sorriso largo que se transformou em uma gargalhada. Os outros riram junto.


- Espero ter sido claro.
- Vai se – Tossiu – Vai se ferrar, Aron...
- Continue com isso e vai levar mais uma surra, seu merda irracional.
- Vamos, esse não aprende fácil, da próxima vez quebramos uns membros e fica tudo certo. – Pronunciou-se o garoto ruivo que os acompanhava.


Já sentada a beira da cama, Kitty lutava contra sua própria roupa íntima, tentando abotoá-la. Rupert buscou rapidamente a sua e a vestiu com um sorriso no rosto, que se desmontou ao tocar o pescoço de Kitty e ouvir um “Tira a mão!” imediato.

- O que foi!?


Não obteve uma resposta, Kitty se levantou e continuou a busca por suas – curtas – roupas perdidas pelo quarto, vestia seu short entre alguns suspiros.

- Kitty... Eu achei que estivesse blefando, você estava falando sério?
- Vai se ferrar! – Pronunciou em um berro instantâneo.
- Calma loira, é sério... Me desculpa, ok?



Sentou-se ao lado de Rupert para calçar os sapatos, ainda em silêncio e com olhos fechá-dos, para que não fosse possível olhar pro corpo tatuado ao seu lado novamente, a vergonha não a permitia.

- Foi tão ruim assim?
- Você pode calar sua boca? Por favor?
- Ok... Mas é que você parecia estar gostando... Não? Nem um pouco?



Aquilo a deixou a fez chegar ao ápice da falta de humor e constrangimento. Havia gostado daquilo por alguns segundos, mas JAMAIS admitiria, nem pra si mesma.
Acabou de se vestir e se levantou da cama com um impulso forte. Saiu daí deixando para Rupert, seu dedo médio, que era o que ela julgava como “o que ele merecia”.



 Ouvindo o estalo da maçaneta, correu para conferir se ela estava realmente indo embora, e estava.


- Não ganho um beijo de despedida?
- Ganha meu salto na sua testa se vir atrás de mim.



Rupert soltou um riso exausto – pelo o que havia acabado de fazer – e manteve um quase sorriso de lado, enquanto escutava o salto de Kitty quase rompendo o tablado do andar.


- Gostei dela.



Mais uma vez, estava dirigindo sem saber pra onde ir. Não queria chegar em casa agora, havia mentido para seu pai alegando uma possível “festa do pijama” ou coisa do tipo na casa de Ingrid – e o pior é que ele acreditaria - tentava não pensar no havia acabado de fazer. Agora sim estava se sentindo suja.




De fato coincidências estavam acontecendo naquele dia, passou por Ingrid que corria na calçada e encostou o carro automaticamente.

- Ingrid? Pra onde está indo com tanta pressa e a essa hora?


- Você! – Ingrid apontou – Como ousa dar as caras assim com tanta facilidade?
- Do que está falando?
- Vadia!


Kitty ficou a observando por alguns segundos, incrédula. Não poderia acreditar no quão infantil havia sido aquele diálogo e, por mais que tentasse, jamais entenderia sozinha o que estava acontecendo ali. Tudo que precisava agora era ser chamada de “vadia”, para não dizer o contrário.

- O que é isso, Ingrid? 



Fechou a expressão e desceu do carro, batendo a porta. Voltou os olhos para os de Ingrid, encarando-a como nunca havia feito antes.


- Eai? Vai me explicar ou vai ficar me olhando com cara de boba?
- Você é uma vadia e eu que tenho que explicar? Kitty, eu não sei o que anda fazendo, mas estou pegando nojo de você sem saber, imagina se eu soubesse!



- O que ando fazendo!? Você viu o que fiz! Beijei aquele cara na festa e... – Perdeu-se nas explicações quando relacionou os fatos ao que tinha acabado de fazer.
- Trair o Simon é uma coisa, trair o Simon e não me contar é outra. Eu teria te dado um tapa pra que acordasse e percebesse que ele não merecia isso!
- Espera, espera! Trair!? Eu não traí o Simon, nós terminamos Ingrid! De que lado você está afinal?



- Lado!? Kitty isso já não é mais uma simples briguinha, não é algo infantil a ponto de eu ter que escolher um lado. Está tudo muito claro.
- Claro? Eu por acaso te contei algo sobre a MINHA vida para que ela estivesse clara?
- Aí é que está o problema, exatamente aí! Eu soube de tudo pelo Simon, e não por você. Você deveria ter me contado Kitty! VOCÊ!



- E desde quando você é tão próxima do Simon?
- Não sou próxima do Simon... Ele só me ajudou – Hesitou  –  com uma coisa...
- Sempre soube que vocês... –  Kitty foi cortada.
- Não diga isso, Kitty.
- Sim, digo! Sempre soube que você só estava esperando o término dessa porcaria de namoro pra se atirar em cima dele.

Doeu tanto escutar aquelas palavras que Ingrid não foi mais capaz de falar ou pensar no foco da discussão.  Alguns bons anos de amizade destruídos por algumas palavras juntas em uma frase que revelou um sentimento de ciúme. E ainda havia a culpa de realmente ter beijado e desejado Simon por alguns momentos.



Deu as costas para a amiga, segurando fortemente algumas lágrimas que esquentavam suas órbitas. Kitty esperava o tapa antes citado e por isso se assustou ao vê-la ir daquela forma, era uma acusação que também poderia ser interpretada como pergunta, não uma afirmação, resumindo: um impulso.
Estendeu a mão querendo a puxar para um abraço e chorar em seu ombro até que fosse o suficiente, mas Ingrid já estava longe, sentiu como se tivesse realmente a perdido. Sentiu-se sozinha.



Seus lábios tremiam pela força de expressão que fazia para não chorar, porém, foi inútil tentar resistir. As coisas se acumularam e uma lágrima escorreu, seguida por outras sequenciais que insistiam em cair desde que saiu da casa de Rupert. Arrependeu-se de diversas coisas em um único momento e, por isso, chorou as lágrimas mais sinceras dos últimos tempos.



Mais um membro do quarteto possuía lágrimas nos olhos no momento, mas não eram lágrimas de tristeza ou qualquer outro sentimento, era algo físico por ter hematomas gigantescos abaixo das órbitas, apenas isso.



Estava jogado em uma cadeira de madeira que saturava as outras dores que sentia pelo corpo, ao seu lado, uma mulher que pousava as mãos em um de seus ombros, preocupada.
Era uma delegacia. Uma prostituta que passava pelo local, observou bem o que havia acontecido e decidiu denunciar os “meliantes que badernavam em seu local de trabalho”. Aron e os demais estavam sendo interrogados, enquanto Simon – que era visivelmente a vítima – Esperava por sua liberação.



- Seu pai não pode nem sonhar com essa cena, Simon. Você sabe disso, não é?
- Sei. – Pronunciou em tom preguiçoso, ainda de olhos fechados.
- Brigando na rua, meu filho? Até quando? Olha pra esses hematomas... Perdoe-me pela pergunta, mas o que você fez pra apanhar assim?
- O que te faz pensar que a probabilidade de eu ter apanhado porque queriam me assaltar é nula?
- Bom, considerando o fato de que te conheço desde que nasceu, acredito que tenha aprontado alguma coisa muito séria...


- Muito bem, bonitão. Pode ir pra casa, está liberado. – Uma mulher de cabelos extremamente curtos e aparência completamente militar pronunciou-se por trás de um monitor no qual não retirou os olhos. Digitava algo incessantemente. – Você deveria me agradecer por isso, não acreditaram nessa sua cara de “problema” e queriam te jogar na cela por uma noite, só pra aprender a ter bons modos na rua.


- Ah, graças a Deus. – Suspirou a mulher que, na verdade, era a mãe de Simon que acordou em um único pulo ao saber que seu filho estava na delegacia.
- Tá legal, penso em você quando for tocar uma? Afago seus seios? – É claro que Simon não poderia deixar de exercer sua irreverência, mesmo estando com dificuldades na fala, por estar com a boca inchada.


A militar parou de digitar imediatamente ao ouvir  Simon, bateu e pousou as mãos no teclado e se preparava para levantar.
Simon teve indiscutivelmente que se manter quieto, nunca sentira tanta vontade de rir em toda sua vida. Manteu a expressão rígida, mas jurou sentir uma gota de suor escorrer por tanta resistência ao riso.



- Simon! – Lilian berrou de forma em que todos os outros meliantes pudessem ouvir o nome de seu filho sendo chamado. – Mas... - Perdeu-se na fala – Mas você é impossível! 



 - Isso mesmo, rapaz. – A mulher dizia em tom rude, parecia segurar um berro com todas as forças – Era exatamente esse tipo de reação que esperava de você, agora já tenho um motivo pra deixar os outros presidiários brincarem de boneca com você no chuveiro na próxima vez que pisar aqui.
- Que isso, tia! É brincadeira!

A mãe de Simon sentiu-se mal por não conter um riso ao observar a cena, estava satisfeita por perceber que poderia levar Simon para casa sem ter que contar a seu marido sobre o ocorrido.



E foi justamente o que fez. Assim que pisou em casa trancafiou o filho no quarto alegando que estava com febre. Preferiu evitar confusões.
Simon agradeceu por não ter que trabalhar no dia seguinte. Deitado em sua cama tentava esvaziar a mente só por alguns segundos, as dores estavam dando trégua e seu rosto parecia desinchar aos poucos.





- Mas o que...? – Levantou-se em um salto ao ouvir ruídos em seu jardim, ouviu também uma voz que parecia resmungar. – Só pode ser brincadeira... – Finalizou ao constatar do que se tratava.



Kitty estava sentada em seu gramado, com uma garrafa longneck de algum destilado qualquer. Bebia um gole, fazia careta e bebia outro. Da altura onde Simon estava não era possível notar, mas ainda escorriam lágrimas em seu rosto.


Ficou parado ali, imaginando as diversas situações em que isso poderia acontecer, Estava frio e a primeira coisa que quis fazer foi correr até lá, abraçá-la, trazê-la pra dentro e deitá-la em sua cama, mas raciocinou melhor por instantes.




Kitty era orgulhosa, se Simon surgisse ali ela provavelmente sairia correndo. Então para que pudesse manter seus olhos nela por, pelo menos, algumas horas, decidiu somente observar e esperar por uma resposta.




Fungando o choro que insistia em continuar, Kitty olhou para a janela do quarto de Simon. Sabia que ele poderia estar a observando, mas não havia outro lugar pra ir. Estava abalada pelos acontecimentos anteriores e precisava estar em um lugar onde ninguém mais pudesse fazer perguntas.




Simon escondeu-se ao bastidor da janela em um impulso. Não queria que ela o visse quanto mais encará-la, não haveria o que dizer. Ficou ali, encostado a parede, até que ela desistisse de olhar para cima e voltasse sua atenção para a garrafa.



Por hora as dores de Simon sumiram por completo, enquanto pode observá-la ali, falando/reclamando sozinha e forçando o destilado contra a própria garganta. Era o que mais o atraía em Kitty, sua personalidade, mas é claro que seu porte magro era seu tipo preferido também.


A vontade de correr até lá o atormentou pelo resto do tempo em que ficou debruçado a janela, mas preferiu não se aproximar novamente e causar o mesmo efeito anterior.

- Loira magrela dos infernos...